El capitalismo ha formulado su tipo ideal con la figura del hombre unidimensional. Conocemos su retrato: iletrado, inculto, codicioso, limitado, sometido a lo que manda la tribu, arrogante, seguro de sí mismo, dócil. Débil con los fuertes, fuerte con los débiles, simple, previsible, fanático de los deportes y los estadios, devoto del dinero y partidario de lo irracional, profeta especializado en banalidades, en ideas pequeñas, tonto, necio, narcisista, egocéntrico, gregario, consumista, consumidor de las mitologías del momento, amoral, sin memoria, racista, cínico, sexista, misógino, conservador, reaccionario, oportunista y con algunos rasgos de la manera de ser que define un fascismo ordinario. Constituye un socio ideal para cumplir su papel en el vasto teatro del mercado nacional, y luego mundial. Este es el sujeto cuyos méritos, valores y talento se alaban actualmente. (Michel Onfray)


viernes, 1 de abril de 2011

A MULTIDÃO (2010)


(Aldo Cardoso, Cochabamba, 2000)


Assim somos. Uma só pessoa passa inadvertida. Os senhores ignoram-na. Desprezam a sua força. E a vida do solitário decorre num silêncio temeroso. Mas quando é a multidão que avança unida, são eles quem treme por sentir-se débes e temerosos.

Somos como a água. Uma só gota passa inadvertida. Desliza sobre o musgo. Cai sobre o solo e desaparece até às entranhas da Terra.

Assim somos. Recorremos as sombras. Deslizamos pelas fendas das rochas. Unimos os nossos trajectos. Atravessamos as grutas. Juntamo-nos a milhões nas abóbadas das profundas cavernas.

Assim somos. Avançamos unidas num corpo. Poderosas e versáteis, surgimos bruscamente à luz rugindo nas enxurradas e nenhuma rocha pode opor-se à nossa força.

E, todavía, ao nosso passo renasce nos prados a verdura e brota com ela uma infinidade de flores, as árvores dos bosques cobrem-se de tenras folhas novas e nas hortas reluzem as gemas do que serão doces e sumarentos frutos.

Assim somos. Unidos os nossos trajectos, somos a multidão que os intimida. Por isso, quereriam conter-nos, dividir-nos, reprimir-nos e isolar-nos segundo a sua conveniência. Quereriam que, para seu benefício, permanecêssemos como as águas paradas, num mundo tornado pútrido e insalubre. Mas então, sempre, surgimos rugindo bruscamente de novo à luz, com uma força arrasadora ante a qual sabem que são impotentes, e derrubam-se as suas muralhas e todo o seu mundo de opressão destrói-se até aos alicerces.

E, no entanto, quando ficam para trás os dias de cólera e a devastação, e deslizamos livremente, também levamos a beleza da primavera a todos os recantos da Terra.

Assim somos. Como a água. Humilde e invencível. Verdadeiramente poderosa.

(Texto integrado na instalação Los guerreros del agua, de Aldo Cardoso, apresentada no contexto da exposição colectiva Aigua, una mostra fotogràfica, Amics de les Arts i Joventuts Musicals, Terrassa, 2011. Tradução ao português de Tiago Romeu.)


4 comentarios:

  1. També en gallec:
    http://debildistraidoydespeinado.blogspot.com/2011/03/multitude-2010.html

    ResponderEliminar
  2. També en castellà:
    http://debildistraidoydespeinado.blogspot.com/2011/02/la-multitud-2010.html

    ResponderEliminar
  3. També en català:
    http://debildistraidoydespeinado.blogspot.com/2011/02/la-multitud-2010_04.html

    ResponderEliminar
  4. També en ucrainià:
    http://debildistraidoydespeinado.blogspot.com/2011/04/blog-post.html

    ResponderEliminar